Nosso caminho espiritual nesta vida supostamente obedece uma ordem: a de que devemos avançar. Ou ao menos na maioria das doutrinas, ordens, igrejas ou o que quer que seja que tenhamos como crença nos diz isso, através de exemplos e histórias contadas. Andar para a frente, melhorar sem olhar pra trás, afinal, não podemos mudar o passado. Certo?
Vamos analisar aqui neste texto o maravilhoso paradoxo Divino, que em sua nuance percebida apenas por quem busca além do que está escrito nos mostra o contrário, que devemos olhar para trás para avançar!
Encaramos nosso caminho espiritual como um jogo, onde devemos colher moedas ou recompensas (físicas ou espirituais) em nossa cesta até chegar à última casa, não é? E quando eventualmente chegamos, nos questionamos novamente. Nos questionamos onde estão nossa realização suprema, nossa felicidade infindável e nosso gozo eterno, como prometido nas escrituras. Não é isso?
A resposta, como sempre, não é linear. O caminho do retorno é que nos propicia entender este paradoxo. Precisamos soltar para voltar. Soltar o que? O controle, o apego, o ego. Não somos isso. Nunca fomos, estamos. E logo mais não estaremos. Nossa carcaça não é quem somos, muito menos nossa profissão, nossa beleza ou falta dela. Nossos gostos pessoais, nossas características, nossos traumas. Isso é apenas uma camada que esconde quem somos. Precisamos nos despir de todas elas para voltar para a Fonte, a energia primordial de onde viemos. E este não é um caminho linear, este é o nosso único caminho na vida.
E se não soubermos onde procurar quem somos? Olhe para dentro. Lá estaremos. Mas não dentro logo ali, abaixo da superfície, apenas cutucando de leve nossa alma, incitando somente alguns pequenos desconfortos. Dentro é o que sobra quando já atravessamos todos os nossos céus e infernos internos. É o que sobra quando removemos as sombras e também a luz ilusória, é a essência que ali reside infinitamente, que já nos impregnou de tal forma mesmo antes de termos “sido”. A matéria da qual somos feitos, é quando sobra apenas o Universo. Isto é dentro.
Para chegar neste nível de “dentro”, precisamos olhar para trás. Para o passado relativo. Buscar nas fendas temporais nossa conexão. E não no futuro: “um dia serei iluminado”. Desta forma até pode funcionar, porém as chances de emaranhamento são maiores. O futuro é relativo para nós, ainda não está escolhido. Conseguiremos sustentar a todo tempo a linha da iluminação? Temos gradiente e disciplina suficiente para isso? Na minha visão, não. A ilusão dos hologramas de Maya está entranhada em nossa carne, física e espiritual. Atua como animal voraz em nossa psique, sem dar muitas chances para a vitória.
O trabalho é árduo, mas é necessário. Retornar, voltar até o ponto de onde viemos. Esquadrinhar suas linhas temporais até achar aquela por onde entrou. Subir a vibração, o gradiente, a complexidade de sua estrutura até conseguir retornar ao mesmo patamar que foi um dia (que ainda é em outra estrutura de tempo). E para isso, não há atalhos ou muletas. A energia desta estrutura é limpa, livre, prístina.
E lá sim, conseguiremos expandir, ou na melhor das hipóteses, nos fundir gradualmente à nossa real estrutura energética. O caminho do retorno pode ser o maior dos paradoxos que temos hoje, pois acreditamos que para avançar precisamos ir além de forma linear. Este caminho de retorno nos ensina também isso: avançar não significa linearidade, avançar casas no jogo da vida. Significa se reestruturar geometricamente, reconectar átomos a uma estrutura dimensional superior, retornando ao “passado linear” para isso.
O avanço espiritual precisa deste retorno. Para que cheguemos ao ponto de fusão, de forma diferente- fusionando passado e futuro no agora. Para que possamos entender quem somos, de onde viemos, e para onde vamos. Ela pode estar à frente? Pode, mas se não conseguimos entender que a bússola está dentro, e atrás, não haverá avanço à frente.
O movimento do Universo é pendular, não linear. Quando conseguirmos entender isso, entenderemos a necessidade de entrar para sair e a de retroceder para avançar. Entenderemos também que o tal “caminho do meio” representa o equilíbrio das energias do pêndulo- porém para achá-lo precisamos andar na corda e compreender seus parâmetros. Dimensionar os dois lados, entender seu pesos e medidas, somente assim conseguiremos estabelecer o “meio”, e ao encontrarmos, o Universo nos oferece então de presente o caminho para fora…Retornemos! A abelha sempre sai por onde entrou…





